sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Foi Num Dia de Chuva

Era interessante quando ele passava, descompassado, porém com uma certa simetria. Eu estava observando o movimento da cidade pela janela, do alto de um arranha-céu, quando ele chamou-me a atenção. Era robusto, parecia proteger aquela mulher. Confesso que senti ciúmes.

Entre as pessoas ele fazia a diferença, empurrando às vezes, para abrir caminho, e delicado para com os idosos. Vestia-se de preto, geralmente. Um pouco desbotado, mas com um charme que só ele tinha. Quando o vi pela primeira vez, achei que fosse como os outros, comum e indiferente. Mas a chuva o revelou. Quando a água caiu sobre ele...suas costas o seu corpo...nada mais bonito traduziría esta imagem.

Ficou um longo tempo sem aparecer, mas quando eu o via estava sempre com aquela mulher. Gostaria de saber o nome dele...onde nascera. Presumo que muitas vezes fora abandonado. Com o meu antigo foi assim. Será que ela lhe dá valor? Bom, quando eu tinha o meu, cuidava dele; até que chegou o dia fatídico. Fui pegar o trem de manhã cedo com ele. Tudo estava tranqüilo. Mas na hora de descer do trem, ele ficou. Sem dizer uma palavra...partiu. Eu estava atordoada...quando me dei por conta percebi que estava só. Mas isso não importa mais. Me apaixonei novamente. É...foi amor a primeira vista. Minha mãe disse-me que eu estava obcecada, que eu precisava de tratamento e que tudo isso era uma loucura.

Tudo o que eu mais queria era que chovesse todas as noites para eu acordar de manhã e perceber que ele está comigo.

Mas ele não é meu! Ainda.

Quando eu cruzar com ele na rua, o agarrarei com todas as forças, mesmo que aquela mulher fique chorando e gritando que fui eu quem o roubou dela. Correrei com ele pela cidade e finalmente poderei saber da sua vida, das suas aventuras.

O plano estava armado. Estava chovendo forte, e o vento parecia cortar a boca. Escolhi o horário da tardinha, quando ela ía para casa com ele. A sinaleira abriu par os pedestres, eu estava de um lado da rua e eles do outro. Chegara o momento. Corri como nunca, peguei em seu corpo e me agarrei forte. Puxei com toda a minha força e a mulher o soltou. Perplexa, ela ficou ali, parada na faixa de segurança, enquanto eu fugia com ele, sorrindo e com medo. Com frio e molhada. Pensei que ele iria me proteger. Mas não deu tempo. O vento foi tão forte que ele perdeu o equilíbrio e tombou. Rasgou a sua roupa...já não respirava mais. A chuva passou, e eu ali, chorava, pensava, esperava. Perdi minha vida. Ele já não era mais um guarda-chuva. O meu guarda-chuva.

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