sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

De Volta ao Passado

            Já vi muitas pessoas afirmarem não conseguir viver sem música. De fato, ela está para nós assim como a trilha de um filme está para os personagens. O significado dessas músicas, para alguns, acontece paralelamente aos momentos inesquecíveis. Entretanto, há situações em que essa significação pode ser muito intensa, mesmo sem que a pessoa tenha vivido em uma determinada época, como no meu caso.
            Na década de 50, surgiu a Bossa Nova. Ela foi um dos gêneros musicais brasileiros mais bem-sucedidos, aceito em importantes mercados fonográficos, como o dos Estados Unidos e de vários países europeus. Tudo isso persistiu na década de 60, o Brasil sofrendo transformações políticas e econômicas...embaladas ao som de Chico Buarque de Holanda. Mesmo vivendo em outro período, cresci ouvindo esse compositor maravilhoso e gostando cada vez mais desse movimento chamado de Bossa Nova. Gosto muito de um poema que o Chico musicou, feito por João Cabral de Melo Neto chamado de "Morte e Vida Severina". Eis um trecho: "Somos muitos severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se em cima." Essas palavras são atemporais, pois a questão social brasileira era, na época em que o poema foi escrito, durante a Bossa Nova e continua sendo, um processo marcante e desigual em nossa sociedade. O poema nos diz que somos todos iguais, na luta pela ascensão social, pela sobrevivência - tarefa um tanto complicada, visto que a má distribuição de renda, a pobreza e a corrupção serão sempre fatores pertencentes ao nosso meio, em maior ou menor nível, de acordo com o desenvolvimento econômico. Portanto, o importante é mostrar nossos problemas sociais expressando-os culturalmente, como fez Chico Buarque.
            Enfim, a Bossa Nova nos trouxe uma série de compositores e músicos até então desconhecidos do povo brasileiro, nas décadas de 50 e 60, através de concursos musicais. O maior significado que ela tem em minha vida é o fato de que as épocas difíceis se repetem e que independentemente das dificuldades que tenhamos de enfrentar, são movimentos como esse que traduzem a nossa história, o nosso passado de maneira especial, mostrando que a vida realmente não se resume a festivais.

Cigarras e Formigas

             Uma das atitudes mais difíceis que surgem na vida é a escolha de uma profissão. Definido o objetivo, o ser humano passa por diversas atribulações, pois nessa árdua caminhada algumas pessoas costumam obliterar certos prazeres - como passear e se divertir - para alcançar a meta desejada. Contudo, suprimir as atividades prazerosas não é um bom método. É preciso encontrar um equilíbrio entre as realizações e as privações.
            Certa vez, ouvi aquela velha fábula da "Cigarra e a Formiga".Nela, a cigarra ficava o ano inteiro tocando violão e se socializando, enquanto a formiga trabalhava sem parar e não conversava com ninguém. Quando o inverno chegou, a formiga fez um estoque suficientemente grande para a estação e ficou sozinha em sua casa. A cigarra ficou sem mantimentos, porém contente por ter feito amizades e descoberto novas canções. Nessa história, os personagens estão em desarmonia, pois não basta se isolar do mundo e nem levar a vida sem responsabilidades. Não podemos deixar que a conquista de nossos objetivos nos isole de tudo, pois somos passíveis de carinho e amor. Devemos rir, passear e descansar, assim como devemos nos concentrar, estudar e trabalhar - tudo isso em harmonia. 
           Enfim, para que possamos alcançar nossos objetivos, devemos obter um equilíbrio entre os prazeres da vida e a realização de nossas metas. Desse modo, vale a pena construir um enorme "estoque" de experiências, vitórias e desafios, sem deixar de lado o despertador - exceto aos domingos, é claro.

domingo, 24 de maio de 2009


A Reengenharia do Tempo

Quando Einstein revelou à classe científica que o tempo é relativo, não imaginava que hoje o tempo seria algo escasso e sinônimo de dinheiro. Cada vez mais as tarefas em quaisquer lugares do mundo são otimizadas em função do tempo. Nossa vida possui muitos relógios; até o corpo humano funciona através de um relógio biológico. De acordo com os meus cálculos, em um ano temos 365 dias, cada dia com duração de 24 horas, sendo que durente esse tempo dormimos umas 7 horas. Quando tivermos 75 anos, teremos vivido 438,000 horas. O que você faria para aproveitar esse tempo? É engraçado como não pensamos em reorganizar nossa vida e principalmente o nosso tempo de existência terrestre.
O livro de Rosiska Oliveira - "A REENGENHARIA DO TEMPO" nos mostra que é possível e urgente que haja uma reorganização, principalmente do modo de vida que levamos, do nosso tempo: como a redução da carga horária de trabalho, da relação empresa-família, dos cuidados da saúde – o que é fundamental para que possamos ter um futuro próspero. A situação em que estamos é problemática, pois com a entrada das mulheres no ambiente de trabalho, não há mais tantas donas de casa e quem cuide das crianças. Se as mulheres não tem mais tempo para a família, imagine os homens. Parece que homens e mulheres estão em uma espécie de competição, ou melhor, seleção natural - que de acordo com o que Darwin pesquisou,  só os mais fortes sobrevivem.
Nosso modo de pensar e agir me faz crer que a vida não é vivida em sua plenitude; que ela é um grande negócio, onde perder tempo é perder dinheiro. Precisamos mudar essa ideologia. De acordo com o livro, não necessitamos obter algo material para nos tornarmos mais felizes. Esse contexto nos revela que as pessoas devem, o mais rápido possível, ter a consciência de que o dinheiro não é tudo e que a felicidade não é algo que se obtém através dele. A felicidade está em pequenos momentos de nossos dias – o segredo para alcançá-la é saber reconhecer quando esses instantes acontecem.
Rosiska também nos explica que em alguns países de primeiro mundo como a Noruega e a Suécia, não ter tempo reservado para a família e para a vida pessoal já é algo que está ficando no passado, graças a mobilização da comunidade junto aos seus governantes.
Acredito que essa mobilização precisa se difundir por todo o planeta. Não será uma tarefa fácil, afinal, toda a mudança, seja cultural, econõmica ou social é gradual. Mas se houver um engajamento entre as comunidades, já é um grande passo.
Provavelmente, para os países subdesenvolvidos, a mudança será muito mais difícil, pois dependem dos países mais ricos, e o sistema político e judiciário muitas vezes é falho.
Enfrentar problemas ambientais, econômicos, sociais, familiares e mais os sentimentais ao mesmo tempo, é uma tarefa para um ser de diversidades e possibilidades, como nós, seres humanos. Só nós suportamos tudo isso, e fazemos com que tudo pareça simples, muitas vezes.
É por isso, pelo despertar da busca por um mundo melhor ,que a reengenharia do tempo é possível. Senão, acordaremos um dia e nada existirá; apenas o tempo, que em sua magnitude permanece fazendo de nós, pessoas que possuem passado, presente e futuro seus passageiros – nos oferecendo o que a sua essência tem de melhor: a efemeridade absoluta.
“É impossível caminhar por uma avenida, conversar com um amigo, entrar em um edifício, relaxar sob os arcos de arenito de uma velha arcada, sem ver um instrumento de medição do tempo. O tempo é visível em todos os lugares. Torres de relógio, relógios de pulso, sinos de igrejas dividem os anos em meses, os meses em dias, os dias em horas, as horas em segundos, cada incremento de tempo marchando atrás de outro em perfeita sucessão. E, além de qualquer relógio específico, uma vasta plataforma de tempo, que se estende por todo o universo, estabelece a lei do tempo igualmente para todos. Neste mundo, um segundo é um segundo. O tempo avança com exuberante regularidade, com exatamente a mesma velocidade em todos os cantos do espaço. O tempo é soberano infinito. O tempo é absoluto”. Os Sonhos de Einstein / por Alan Lightman.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Memórias de um Anjo


Fui enviado à Terra no dia dezessete de dezembro de 1905, mais precisamente para Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil. No mundo ecoavam a Guerra Russo-Japonesa e o Massacre de São Petersburgo. Missão: ser o guardião de um menino que acabara de nascer e que seria um grande escritor.

Em 1912, esse menino entrou para o colégio Elementar Venâncio Aires. Um tempo depois, em 1914, a conjuntura mundial entrou em crise. Todos aqui em cima ficaram tristes quando a Primeira Grande Guerra começou. Para amenizar a situação, tentei fazer com que o menino se voltasse para as artes e o incentivei a conhecer o cinema francês. Eu também gostava de ficar com ele no quintal de sua casa, muitas vezes lendo Júlio Verne e Eça de Queirós.

No ano de 1918, tive de dar uma mãozinha aos meus colegas quando ocorreu a gripe espanhola. Muitas pessoas vieram ficar conosco, porém o chefe decidiu que a família do guri tinha muitas tarefas a cumprir, e, por isso, foi poupada.

Fui visitar a Semana da Arte Moderna, em Vinte e Dois. Simplesmente maravilhosa. Descuidei-me um pouco do mocinho e não vi quando Dona Bega, sua mãe, se separou de Sebastião, seu pai. Voltei voando para ampará-lo, mas senti que a família já não era mais a mesma para ele. Sua tristeza me doía. Não é à toa que, em praticamente toda a sua obra, a imagem da família aparece como uma busca do que deixou de existir...

No ano seguinte, a Revolução Constitucionalista se expandiu pelo Rio Grande. Estava cada vez mais difícil dar conselhos aos revolucionários e ao Governo. Quando os gaúchos iniciaram a marcha até o Obelisco do Rio de Janeiro, pedi ao meu colega Ariel para que acompanhasse o seu Sebastião, que se integrou aos revoltosos.

Lá por 1928, o rapaz escritor já havia escrito alguns contos. Entre eles estava Ladrão de Gado, publicado na Revista do Globo. Dois anos mais tarde, ao semudar para Porto Alegre, passou a trabalhar nessa revista, e, em pouco tempo, já trabalhava na Livraria do Globo, onde colaborou por muitos anos. Já era 1931, e o meu protegido tornou-se um homem. Seus olhares voltaram-se para Mafalda Halfen Volpe, o grande amor de sua vida. Confesso que pedi ao cupido que ajudasse nessa bela união - e deu certo.

Sinceramente esse mortal foi a melhor pessoa de quem já cuidei. Eu ficava admirado quando ele começava a escrever e não parava mais. Para mim, a literatura brasileira não seria a mesma sem esse homem que dedicou vida e obra à defesa da liberdade e ao repúdio à violência.

Ele estreou de fato no cenário literário com um livro de contos chamado de Fantoches e, logo após, publicou Clarissa. Já em 1935, editou A vida de Joana D'arc e Música ao Longe (o qual mereceu o prêmio Machado de Assis). Eu e todos os Serafins adoramos quando ele assinou um manifesto contra a invasão da Abssínia pelas tropas de Mussolini. Também fiquei ao lado dele quando se opôs à Guerra Civil Espanhola e aos ataques de Franco.

Foi com Olhai os Lírios do Campo que a sua vida melhorou bastante, tanto que conseguiu alugar um apartamento no prédio do Clube do Comércio, na Rua da Praia em Porto Alegre. Gostei do lugar... Eu ficava ali, no parapeito da janela, observando o movimento da Praça da Alfândega.

Em 1949, lembro-me da publicação do primeiro volume de O tempo e o Vento, O continente. Depois viriam outros volumes, como O Retrato I e II e O Arquipélago I, II e III - uma obra grandiosa, senão a mais preciosa trilogia de todos os tempos. Isso me pareceu na época, uma obra de grande repercussão, avançada... como a saga de Guerra nas Estrelas, entende?

A partir de 1943 começou a levar a cultura brasileira para outros países - México, Estados Unidos, Alemanha, Portugal - adorei conhecer todos esses lugares mais de perto, inclusive Israel e Grécia.

Foi então que, entre 1958 e 1961, o coração de meu protegido começou a ter problemas. Meu chefe disse que o deixaria ficar mais um tempo aqui na Terra, mas que depois ele precisaria vir morar conosco. Por isso, insisti com Mafalda e ses filhos, Clarissa e Luis Fernando, para que ele caminhasse diariamente pelas ruas de Petrópolis - último bairro em que morou...Lembro-me do cheiro de jasmim nsa ruas...

Em 1971, acompanhei esse homem, que para mim se tornara um amigo, em uma viagem para Cruz Alta. O vi emocionar-se escondido, relembrando o passado...Dois anos mais tarde, lançou o primeiro volume de Solo de Clarineta. Futuramente chegariam até os leitores outros títulos consagrados, como Senhor Embaixador, O prisioneiro, Incidente em Antares, entre outros.

Foi então que na tarde de 28 de novembro de 1975, época em que ainda escrevia o segundo volume de Solo de Clarineta e pensava em escrever A Hora do Sétimo Anjo, nós nos conhecemos pessoalmente - Muito prazer, meu nome é Hiazel. - O prazer é meu, Erico Verissimo. Convideio para dar um passeio e ele aceitou. Até hoje eu o encontro aqui em cima, então quando começo a falar dos bons tempos e a elogiá-lo, ele sorri e me diz baixinho: " - Sou apenas um contador de histórias, meu amigo”.



A Vida Sem Diálogo



Havia um edifício na rua Monte Alegre, 276. Os inquilinos que lá moravam eram cidadãos simpáticos, com exceção do morador do apartamento 106. O homem vivia no escuro, mal saía para colocar o lixo na rua. A vida dele era um grande mistério.

Certa ocasião, saí para levar o cachorro a um passeio e deparei-me com aquele estranho. Como é de praxe, dei bom dia e ele nada me respondeu. Então resolvi apelar: " - Será que chove hoje?" e nada. Notei que ele parecia nervoso, suava muito, apesar do frio da manhã. É claro que havia algo de muito estranho no seu comportamento. Não era normal viver trancado em um apartamento com todas as janelas fechadas, um breu só.

Passaram-se dois dias e eu não o vi. Eu sempre descia com o cachorro na esperança de encontrá-lo e ver se descobria algo mais a respeito daquele ser - o que parecia impossível, pois ele não conversava com ninguém. Sem contar que fazia horas que um mau cheiro exalava de dentro do apartamento dele.

No terceiro dia a síndica bateu na minha porta - E então, falou com ele? Sabe de alguma coisa? Você é o único que consegue vê-lo! Faz dias que aperto na campainha e ele não me atende! algo está muito errado por aqui!

A síndica continuou com o seu diálogo, ou melhor, monólogo: blá blá blá, pois blá blá e blá...enquanto eu fazia torradas e me concentrava em cortar a fatia de queijo bem na metade (método prático para se desligar de assuntos chatos). Finalmente ela foi embora. Aff!!!

Até que no quarto dia eu fui praticamente incumbido de saber o que estava acontecendo. Desci novamente com o cachorro e lá estava ele, tremendo, com a cara pálida, parecia que saiu daqueles filmes de suspense. Horrível, de dar medo. Resolvi falar do programa do canal sete quando ele gritou: - eu tive de matá-las!!! Não agüentava mais elas em volta de mim!!! E entrou correndo, como se fugisse de algo.

Ahá... pensei: aí está a resposta! Ele cometeu algo de errado para estar fugindo. Um assassinato! Era isso o que eu temia. Subi correndo e liguei imediatamente para a polícia, afinal, aquele cheiro de podre já impregnava o prédio inteiro.

Quando eles chegaram, já era noite; todos os moradores se reuniram em volta da porta do 106.

- Abra! É a polícia! Nenhum som se ouviu.

- Abra! Ou entraremos à força!

A polícia arrombou a porta e todos os condôminos se pisoteavam, se engalfinhavam para tentar ver a cena do crime. Eu fiquei do lado de fora, afinal, já havia feito a minha parte como cidadão, e, além do mais, não consigo ver sangue, sabe, me dá náuseas.

Havia lixo para todos os lados; estava tudo escuro, com exceção de uma luz vermelha ao fundo que iluminava fotos de pessoas nas paredes.

O oficial conteve os gritos de revolta dos moradores: “- E ainda por cima é psicopata!!!"

O homem estava deitado na cama, com muitos cobertores; o termômetro marcava quarenta graus de febre; ao lado da cama a evidência: três baratas mortas. Eis os corpos de quem desconfiávamos: INSETOS.

Mais tarde, no relatório psicológico do hospital constava: Profissão: fotógrafo. Homem com depressão - sofre de timidez crônica; abandonado pela mulher. Obs.: aversão a insetos. Diagnóstico: pneumonia.

Todo o dia eu passo pela porta do 106 e penso: há...se tivéssemos conversado.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Teoria da Lagarta
























"Nunca Desista de Seus Sonhos!!!"


Sei qua as vezes desanimamos.Talvez por que o que queremos não acontece bem rápido.
Mas o importante é não esquecer de decidir realmente o que queremos. Podemos começar pelo dia, por exemplo.

Digamos que nesse dia, hoje, vc decida que quer tratar as pessoas bem, não importa quem. Nem fazer cara feia ou colocar a língua escondido. Isso é bom, pois vc escolheu fazer isso.
Ou que durante o dia vc irá atender o telefone dizendo oiiiiiiiiiiiii tudo booooooooooom??!
Ou que vc diga para todos como se sente bem, e que tomou uma decisão importante tipo, ano novo, vida nova.
A gente pode não perceber, mas ao tomar essas decisões tudo começa a mudar. (não tirei isso do livro "O Segredo")hehehe.

Por isso,desenvolvi uma teoria:

De que somos uma lagarta.É! uma lagarta. A lagarta é um bicho curioso. Ela vive a vida dela ali, comendo folhas um buraquinho ali outro lá, se bem que é uma vida trabalhosa, de se movimentar nas folhas das árvores e tal. Daí um belo dia ela vive uma aventura. Vem um pássaro e quase come ela Zummmmp! Errou de galho. A lagarta , saltou e caíu lá de cima, e passou a viver no chão. Até que gostou de viver em um ambiente novo, mas ela viu que não iría sobreviver ali.

Até que chegou um dia que ela jamais imaginou chegar.

Ela começou a sentir um frio na barriga, dores nas costas, um sono tremendo. Foi então que ela dormiu. Um sono beeeeem longo.
E quando acordou, sentiu algo estranho. Estava mais leve, seus pensamentos estavam mais claros, se sentiu forte e pronta para enfrentar qualquer coisa, vendaval, mata-moscas, enfim, os terrores da vida - notou que até seu visual havia mudado. Noooossa! Quanta diferença! É fantástico! A lagarta havia se transformado em uma linda borboleta!!!!

Que maravilha! E Ela deu o seu primeiro vôo em direção às flores. Um mundo novo, colorido e cheio de surpresas novas.
Enfim, a coragem dela é igual a nossa, somos parte da vida,da natureza - onde as mudanças ocorrem naturalmente. É isso aí.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Foi Num Dia de Chuva

Era interessante quando ele passava, descompassado, porém com uma certa simetria. Eu estava observando o movimento da cidade pela janela, do alto de um arranha-céu, quando ele chamou-me a atenção. Era robusto, parecia proteger aquela mulher. Confesso que senti ciúmes.

Entre as pessoas ele fazia a diferença, empurrando às vezes, para abrir caminho, e delicado para com os idosos. Vestia-se de preto, geralmente. Um pouco desbotado, mas com um charme que só ele tinha. Quando o vi pela primeira vez, achei que fosse como os outros, comum e indiferente. Mas a chuva o revelou. Quando a água caiu sobre ele...suas costas o seu corpo...nada mais bonito traduziría esta imagem.

Ficou um longo tempo sem aparecer, mas quando eu o via estava sempre com aquela mulher. Gostaria de saber o nome dele...onde nascera. Presumo que muitas vezes fora abandonado. Com o meu antigo foi assim. Será que ela lhe dá valor? Bom, quando eu tinha o meu, cuidava dele; até que chegou o dia fatídico. Fui pegar o trem de manhã cedo com ele. Tudo estava tranqüilo. Mas na hora de descer do trem, ele ficou. Sem dizer uma palavra...partiu. Eu estava atordoada...quando me dei por conta percebi que estava só. Mas isso não importa mais. Me apaixonei novamente. É...foi amor a primeira vista. Minha mãe disse-me que eu estava obcecada, que eu precisava de tratamento e que tudo isso era uma loucura.

Tudo o que eu mais queria era que chovesse todas as noites para eu acordar de manhã e perceber que ele está comigo.

Mas ele não é meu! Ainda.

Quando eu cruzar com ele na rua, o agarrarei com todas as forças, mesmo que aquela mulher fique chorando e gritando que fui eu quem o roubou dela. Correrei com ele pela cidade e finalmente poderei saber da sua vida, das suas aventuras.

O plano estava armado. Estava chovendo forte, e o vento parecia cortar a boca. Escolhi o horário da tardinha, quando ela ía para casa com ele. A sinaleira abriu par os pedestres, eu estava de um lado da rua e eles do outro. Chegara o momento. Corri como nunca, peguei em seu corpo e me agarrei forte. Puxei com toda a minha força e a mulher o soltou. Perplexa, ela ficou ali, parada na faixa de segurança, enquanto eu fugia com ele, sorrindo e com medo. Com frio e molhada. Pensei que ele iria me proteger. Mas não deu tempo. O vento foi tão forte que ele perdeu o equilíbrio e tombou. Rasgou a sua roupa...já não respirava mais. A chuva passou, e eu ali, chorava, pensava, esperava. Perdi minha vida. Ele já não era mais um guarda-chuva. O meu guarda-chuva.